16.9.06

Sobre uma poça que não secou

Entre mim e você havia uma poça. E ela tinha lá a sua beleza. Poças podem ser belas quando refletem a luz de olhos que brilham. O perigo é quando os olhos se apagam. E tudo fica escuro. E a poça vira rio. E as mãos já não se tocam. E os corpos já não se aquecem. E você tenta nadar, mas não é mais possível. E os sonhos - todos eles - já partiram. E embora tudo esteja cheio, só há por dentro um grande vazio. Um vazio não do que se foi, mas do que nunca veio. Um vazio não pelo que parte, mas por tudo o que fica no lugar. Por toda essa ruína de nós mesmos. Por tudo o que grita tão alto quando só resta o silêncio.
Entre mim e você havia uma poça. Só que no final das contas, não foi ela quem secou, mas todo o resto. E eu que tanto tentei não molhar os meus pés, sempre tão descalços, vou levando a vida assim: transbordando em mim mesma para não me afogar.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Oi minha Amiga!!!

Nossa!!! Que lindo, que profundo!
Nem consigo comentar , vc já disse tudo, e , perfeitamente!

Gostei muito da parte: "... E eu que tanto tentei não molhar os meus pés, sempre tão descalços, vou levando a vida assim: transbordando em mim mesma para não me afogar."

Beijos no coração

12:10 PM  
Anonymous Anônimo said...

Vi, cada vez que eu leio este texto, consigo me encantar mais e mais, e dá vontade de ficar lendo, lendo, repetidamente, e ... Me identifiquei com o texto!

Beijos

12:13 PM  

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