12.9.06

Um dia, quem sabe...

Um dia eu quero ser livro. Não daqueles que qualquer um encontra na prateleira dos mais vendidos. Não, isso não. Eu quero a tão sutil beleza de um livro de páginas amareladas. Livro de páginas meio soltas. Livro com remendos feitos de durex. Esses livros, já tão gastos, não são egocêntricos. Carregam eles, além de suas histórias, as alheias. Carregam as experiências dos que o folhearam. Entendem da arte de ser mais do que palavras unidas, sem significado algum. E não há nada que, enquanto livro, eu queira mais do que carregar em minhas páginas não só letras, mas marcas, vivências, expressões.
Quero ser livro que faça rir. Mas, por favor, vez por outra transborde o que há em você sobre mim. Livros também são carentes, embora quase ninguém saiba. Quero ser livro que alegre, que faça pensar. Mas não só. Quero ser livro que faça sentir.
Quero ser livro de capa sóbria e simples. São tantos os que compram livros pelas capas. E eu não suportaria que me escolhessem justamente pelo que eu não sou. Porque livros não são capas, não são fontes, não são imagens. Livros não são sequer apenas as histórias que contam. Eles são sempre mais.
Um dia eu quero ser livro sim, isso é fato. E não tenho a pretensão de ser um livro belo. O que desejo é alcançar a imortalidade, tornando-me a cada releitura um belo livro, o que é muito diferente. Quero ter todo esse ar tão natural de mistério. Quero ter toda essa sutileza de às vezes não dizer tudo, mas ser compreendida. Porque nem sempre somos o que falamos. Quantos livros conheço que são exatamente aquilo que calam. Livros estão sempre disponíveis, mas sem ser oferecidos. Eles só mostram o seu valor para quem os procura. Eles nada impõem. E o mais fascinante: livros não são bons apenas quando são lidos. Mesmo que ninguém nunca os abra, mesmo que ninguém nunca vá além do nível em que só há palavras, ainda assim, eles serão sempre história, serão sempre magia, serão sempre encantamento. E mesmo que ninguém nada entenda do que está escrito em suas linhas, não importa, eles serão para sempre livros.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Intrigante, fiquei com vontade de ser livro também...

beijos!
eFe

9:37 PM  
Anonymous Anônimo said...

Hj fui à biblioteca e mesmo sem nunca ter te visto ou falando contigo lembrei de vc. Impressionante como as suas palavras marcam. És mais do que um livro, és um grande acervo.

1:06 PM  

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