18.10.06

Entre colorido e perfume

Hoje encontrei no fundo da gaveta pedaços da nossa história. Ela estava lá, escrita no papel colorido que comprei para enfeitar as nossas vidas. E ainda exalava o doce aroma da caneta perfumada de sonhos que usei para desenhar as melhores palavras que seus olhos atentos pudessem ler. Passei algum tempo deslumbrada com o colorido, com o perfume, com as palavras, com o reinventar de tantos capítulos, com o reinventar de nós mesmos, com o tanto que sentimos, mas não vivemos, com o tanto que vivemos, mas não sentimos. Reli cada pedaço de nós mesmos com o coração repleto da ternura que ficou mesmo quando todo o resto se foi. Em pensar que tudo foi arrastado por um vento quase forte, quase fraco, quase brisa, quase tempestade. Com um vento que eu vivi, mas que não soprei. Tentei lembrar o que nos fez deixar de fixar no solo o que tínhamos. Não lembrei. Será que você lembra? Pensei. E entre "serás" e "porquês", vi mais uma vez o vento chegar sorrateiro, tentando soprar o meu pensamento para longe. Não queria que fosse assim. Relutei. Tentei me segurar, com todas as minhas forças, mas não pude. Ao meu redor só vi promessas quebradas, palavras sem âncora, desculpas esfarrapadas e silêncio. Persistente que sou, procurei as raízes. Imaginei que nelas eu poderia me agarrar para depois replantar todo o resto. Mas elas também não estavam lá. Me vi, então, solta, completamente solta. Não tão livre, não tão leve, mas solta. E solta eu vou seguindo até romper a bolha em busca de mais ar.